14. Como a fé é um dom de Deus
A fé é, então, um dom de Deus. Isto não significa que Deus a oferece ao homem, que da sua parte pode decidir o que ele quer fazer, mas ela é, de fato, dada ao homem, conferida e nele infundida. Também não é assim que Deus apenas concederia o poder para crer e depois esperaria do livre arbítrio de homem o consentimento para crer ou o ato de crer. Ao contrário, é um dom no sentido de que Deus efetua no homem tanto a vontade de crer quanto o ato de crer. Ele opera tanto o querer como o realizar. Sim, opera tudo em todos. (Ef 2.8; Fp 2.13).
Nos artigos anteriores se fala sobre a obra regeneradora de Deus dentro do homem. Deus converte o homem para que este seja convertido (Je 31,18); e agora, no artigo 14, o Sínodo tira a conclusão: a fé é um dom de Deus.
O Sínodo se dirige contra a heresia dos Arminianos que está exposta no art. 6; Armínio negou que a fé é um dom de Deus. De acordo com ele, a fé é um ato do homem. Deus, em sua misericórdia e graça, oferece a fé, por meio do evangelho; e Ele dá o poder para chegar a crer, mas tudo depende do livre arbítrio do homem, caso aceite esta oferta ou não; se usar esse poder ou não. Conclusão: o homem decide!
Isto claramente é contra a Palavra de Deus, que diz (Fl 1,29): “Porque vos foi concedida a graça de padecer por Cristo e não somente de crerdes nele”. E também: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”. A fé não é um presente que é oferecido ao homem, mas ela é “dada, conferida e nele infundida”.
No lugar da palavra “conferida”, o Sínodo usa uma palavra que é igual à palavra “inspirada”. A mesma palavra que é usada em 2 Tm 3,16! Não para dizer que a fé é igual à inspiração das escrituras, mas sim para dizer que é um ato de Deus, por meio do Espírito Santo dentro do homem. Por causa disso se usa também a palavra “infundida”. Tudo isso serve para deixar claro que o homem não tem opção; Deus age irresistivelmente com soberania.
O Senhor Deus concede a fé por meio da sua Palavra e do seu Espírito Santo (veja Domingo 25 do catecismo, que diz que a fé “vem do Espírito Santo, que a produz em nosso coração pela pregação do Evangelho”. Veja, também, cap. 5, art 14); conhecemos os meios da graça que Deus usa, mas não sabemos exatamente como Deus infunde por meio do Espírito dele. Isso é um mistério (veja art. 13).
Então, o que acontece primeiro: a fé ou a regeneração? O artigo 12 diz que a regeneração acontece primeiro, e a fé é uma consequência dela. Mas o art. 24 da Confissão Belga confessa o seguinte: “Cremos que a verdadeira fé, tendo sido acesa no homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pela obra do Espírito Santo, regenera e o torna novo homem”. Então, a fé é primeira e a regeneração vem depois? Esta questão é complicada: nessa situação não existe uma primeira e uma segunda. As duas não podem ser divididas ou separadas. É uma só obra graciosa de Deus. E é por pura graça que recebemos a fé, que nos deixa abraçar Cristo e todos os seus benefícios.
Os Arminianos destroem a graça de Deus, enfatizando que tudo depende do livre arbítrio do homem. Sim, eles reconhecem que Deus é misericordioso. Ele deu o poder de crer, mas depende do homem mesmo se ele quer usar esse poder. A possibilidade de crer vem de Deus, mas o querer vem do homem. E, dessa maneira, eles negam o testemunho claro das Sagradas Escrituras que dizem (Fl 2,13): “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”. E em 1 Co 12,3:“Ninguém pode dizer “Senhor Jesus”, senão pelo Espírito Santo”.
Baseado neste testemunho, nós damos toda honra a Deus. A fé é um DOM. O poder de crer, o querer crer e a realização do crer. Tudo vem de Deus. Ele opera tudo em todos!
Heresia 6 – “Na verdadeira conversão do homem, Deus não pode infundir novas qualidades, novos poderes ou dons na vontade humana. Portanto, a fé, que é o começo da conversão, e que nos dá o nome de crente, não é uma qualidade ou um dom outorgados por Deus, mas apenas um ato do homem. Somente com respeito ao poder para alcançar a fé, pode se dizer que é um dom”.
Refutação – Este ensino contradiz a Sagrada Escritura, que declara que Deus infunde em nossos corações novas qualidades de fé, obediência e experiência de Seu amor: “Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também nos corações lhas inscreverei” (Jr 31.33). E: “… derramarei água sobre o sedento, e torrentes sobre a terra seca” (Is 44.3). E ainda: “… o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado” (Rm 5.5). O ensino arminiano também contraria a prática constante da Igreja, que ora com o profeta: “Converte-me, e serei convertido” (Jr 31.18).
Heresia 8 – “Na regeneração do homem, Deus não usa os poderes de sua onipotência, de tal maneira que Ele dobra a vontade humana, à força e infalivelmente, para fé e conversão. Mesmo sendo realizadas todas as operações da graça que Deus possa usar para converter o homem e mesmo que Deus tenha a intenção e a vontade de regenerá-lo, o homem ainda pode resistir a Deus e ao Santo Espírito. De fato, frequentemente resiste, chegando a impedir totalmente sua regeneração.
Dessa maneira, o homem mesmo decide se será ou não será regenerado”.
Refutação – Isto é nada mais, nada menos, que anular todo o poder da graça de Deus em nossa conversão e sujeitar a operação do Deus Todo-Poderoso à vontade do homem. É contrário ao que os apóstolos ensinam: cremos “… segundo a eficácia da força do seu poder” (Ef 1.19), e: “… para que nosso Deus cumpra … com poder todo propósito de bondade e obra de fé …” (2 Ts 1.11), e também: “… pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade …” (2 Pe 1.3).
Perguntas para discussão:
Pergunta 1: Como se considera a regeneração no meio dos membros da Assembleia de Deus?
Pergunta 2: Mt 16,17; de onde vem a fé de Pedro?
Pergunta 3: Como funcionam os testemunhos das conversões no meio dos evangélicos? Testemunhos públicos de artistas, criminosos ou alcoólatras? Porque Paulo não usou a história da conversão dele em sua pregação?
Pergunta 4: A igreja é uma reunião de regenerados? NB a igreja em Corinto!
Pergunta 5: Podemos diferenciar entre regenerados e não regenerados?