7. Por que o Evangelho é enviado a alguns e a outros não
No Antigo Testamento, Deus revelou este mistério da Sua vontade apenas a poucas pessoas. No Novo testamento, entretanto, Ele retirou a distinção entre os povos e revelou o mistério a muito mais pessoas. Esta distribuição distinta do Evangelho não é causada pela maior dignidade de um certo povo, nem pelo melhor uso da luz natural, mas pelo soberano bom propósito e amor imerecido de Deus. Portanto, eles que recebem tão grande graça, além e ao contrário de tudo que merecem, devem reconhecer isto com coração humilde e agradecido. Mas eles devem, com o apóstolo, adorar a severidade e justiça dos julgamentos de Deus sobre aqueles que não recebem esta graça. E não devem, de maneira nenhuma, investigá-los curiosamente.
8. O sério chamado pelo Evangelho
Mas tantos quantos são chamados pelo Evangelho, seriamente o são. Porque Deus revela sério e claramente em Sua Palavra o que Lhe agrada, a saber: que aqueles que são chamados venham a Ele. Ele também sinceramente promete descanso para a alma e vida eterna a todos que a Ele vierem e crerem.
9. Por que alguns que são chamados não vêm
Muitos são chamados por meio do ministério do Evangelho, mas não vêm nem são convertidos. Não é a culpa do Evangelho, nem do Cristo que é oferecido pelo Evangelho, nem de Deus que chama por meio do Evangelho e inclusive confere vários dons a eles. Mas é sua própria culpa: alguns deles não aceitam a Palavra da vida por descuido. Outros, de fato, a recebem, mas não em seus corações; por isso, quando desaparece a alegria de sua fé temporária, viram as costas à Palavra. Ainda outros sufocam a semente da Palavra com os espinhos dos cuidados e prazeres deste mundo, e não produzem nenhum fruto. Isto é o que o nosso Salvador ensina na parábola do semeador (Mt 13).
10. Por que outros que são chamados vêm
Outros que são chamados pelo ministério do Evangelho vêm e são convertidos. Isto não pode ser atribuído ao homem, como se ele se distinguisse por seu livre arbítrio de outros que receberam a mesma e suficiente graça para fé e conversão, como a heresia orgulhosa de Pelágio afirma. Mas isto deve ser atribuído a Deus: como Ele os escolheu em Cristo desde a eternidade, assim Ele os chamou efetivamente no tempo. Ele lhes dá fé e arrependimento; Ele os livra do poder das trevas e os transfere para o reino de Seu Filho. Tudo isto Ele [Cristo] faz, a fim de que eles proclamem as grandes virtudes daquele que os chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz, e se gloriem não em si mesmos, mas no Senhor, como é o testemunho geral dos escritos apostólicos (Cl 1.13; 1Pe 2.9; 1Co 1.31; 2Co 10.17; Ef 2.8-9).
Esta parte dos Cânones de Dordt fala sobre o chamado das pessoas por meio do Evangelho. Parece que temos que chamar as pessoas. Muitas pessoas do mundo não querem ser salvas. Elas não acham que precisam de um salvador. As pessoas não estão interessadas na salvação. Deus tem que procurar as pessoas.
Deus procurou Adão e Eva (Gênesis 3,9), Deus chamou Abraão (Gênesis 12), Deus enviou profetas, Deus enviou o seu próprio Filho (João 1) e os seus o rejeitaram (João 1, 11-13), mas aqueles que foram regenerados pelo Espírito de Deus foram adotados como filhos de Deus.
Deus trabalha por meio do Espírito Santo (João 3, 1-21). Deus chama as pessoas por meio do filho (Mt. 11,28 e Mt 23,37), por meio dos Apóstolos (2 Co 5,20) e por meio de pregadores (2 Tm 4, 1-2). O chamado é sério e deve fazer um apelo às pessoas. A pregação deve ser séria e chamar as pessoas. Pensem em Eclesiastes 5, 1 e em Tiago, 1, 19-26.
O autor de Eclesiastes diz:“Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos”. E Tiago bate na mesma tecla, dizendo: “Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. [-] Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem aventurado no que realizar”.
Então, a questão é: Como nós ouvimos? Somos ouvintes e praticantes? O que atrapalha o nosso ouvir quando estamos no culto?
O problema pode estar em nosso redor (crianças que tiram a nossa atenção), mas também dentro de nós (cabeça cheia, coração duro, resistência para ouvir, preocupações que atrapalham a nossa atenção; hoje em dia, nós não somos mais treinados em ouvir, porque vivemos numa cultura de imagens (TV, INTERNET)). Então, o problema pode estar no ouvinte, mas existe também outra possibilidade: a pregação.
Como está sendo a pregação em sua congregação? A pregação é clara? Ela é séria? A pregação faz um apelo? A pregação é pessoal? A pregação nos deixa pensativos? Ela perturba a sua alma? Quantas vezes acontece de você continuar pensando depois da pregação? Ou a situação é essa: a mensagem entre por um lado e sai pelo outro, sem afetar nada. A pregação tem tempo para se enraizar? Pensem na parábola dos semeador, que se encontra em Mateus 13, 1-23!
A semente é a Palavra de Deus que é semeada neste mundo. A palavra é semeada e cai nos corações dos homens. Existem várias situações. Uma parte cai no coração, mas foi arrebatada pelo maligno; outra parte caiu em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, mas não tem raiz em si mesmo – por causa disso é de pouca duração. Chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza. E o que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuiados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra e esta fica infrutífera.
Então, como está a sua situação? Ja ouviu a palavra e ficou entusiasmado, mas depois perdeu o interesse por causa das reações negativas dos amigos ou colegas? OU você vive no meio dos ‘espinhos’? Você está muito ocupado, os cuidados do mundo tomam conta dos seus pensamentos na segunda-feira e durante o resto da semana.
Você se acha um bom ouvinte? Então, qual é o rendimento da pregação em sua vida? A palavra plantada em você é frutífera? Trinta, sessenta ou cem vezes?
Existem pregadores que pregam o evangelho como o apresentador do Jornal Nacional. Ele nos informa sobre as coisas que aconteceram, mas ele não está interessado em nossa reação; a pregação do Evangelho não pode ser assim. O pregador deve fazer um apelo (2 Co 5,20): Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus!
A pregação é existencial ou conta coisas interessantes que não têm nada a ver com a sua vida cotidiana? Já aconteceu que você saiu da igreja com a ideia “Deus falou comigo hoje, esta semana tenho que fazer isso e aquilo!”? Ou você ouviu o sermão, olhou no espelho, virou-se e logo se esqueceu do que ouviu? Então, ore a Deus para que Ele possa lavrar o campo do seu coração para que produza frutos em sua vida.