- O valor infinito da morte de Cristo
A morte do Filho de Deus na cruz é o único sacrifício e a perfeita expiação dos pecados. O poder e o valor dela são infinitos, e por causa disso abundantemente suficientes para expiar os pecados do mundo inteiro.
- Por que a morte de Cristo tem valor infinito
A morte de Cristo é de tão grande poder e valor porque quem se submeteu a ela não é apenas um verdadeiro e perfeitamente santo homem, mas também o Filho único de Deus. Ele é Deus eterno e infinito juntamente com o Pai e o Espírito Santo. Assim devia ser nosso Salvador. Além disso, a morte de Cristo é de tão grande poder e valor porque Ele sentiu, na hora da morte, a ira de Deus e a maldição que nós merecemos pelos nossos pecados.
Como já disse na introdução do segundo capítulo: este capítulo fala sobre a morte de Cristo e a salvação dos homens. Uma das divergências foi a questão de Cristo ter morrido ou não para salvar todos os homens; os reformados disseram – com a Bíblia na mão – NÃO! E os arminianos disseram – com a Bíblia na mão – SIM! Por causa disso os arminianos já tinham demonstrado, anteriormente, a sua insatisfação com o Catecismo de Heidelberg, Domingo 7. Veja a pergunta 20:
Todos os homens, então, tornam-se salvos por Cristo, assim como pereceram em Adão? A resposta é “Não! Somente aqueles que, pela verdadeira fé, são unidos a Cristo e aceitam todos os seus benefícios”.
A doutrina bíblica é essa; mas os Remonstrantes não concordaram com isso. Eles consideravam o sacrifício de Cristo suficiente para salvar todos; porém, essa salvação dependia da reação do homem; se o homem aceitasse ou não o sacrifício de Cristo; e isso dependia do livre arbítrio do homem. De acordo com os Remonstrantes, o homem não estava morto em pecado, mas estava doente e ainda tinha poder para usar o seu livre arbítrio dele.
Então, por um lado, havia outra opinião sobre o pecado original e o livre arbítrio do homem; e, por outro lado, havia também uma opinião diferente sobre o valor do sacrifício de Cristo e sobre o papel de Cristo como Mediador. No capítulo anterior, nós falamos sobre Cristo como o nosso Fiador. Hoje vamos falar sobre o valor do sacrifício de Cristo (Artigos 3 e 4).
A questão é esta: Cristo é o único e perfeito Salvador ou o sacrifício dele é insuficiente e precisa de um complemento? Pensem no exemplo do homem que está no mar e não pode nadar. Ele deve ser salvo. O Remonstrante vai dizer que Deus jogou a boia (i.e. Cristo) na água para salvá-lo, mas o homem deve pegar a boia para ser salvo. Deus fez uma parte, e o homem deve fazer a outra. O contra-remonstrante não concorda com isso e diria que o homem é incapaz de pegar a boia; Cristo deve pegá-lo e salvá-lo. Para fazer isso, Cristo chegou. O Sacrifício de Cristo é abundantemente suficiente para expiar os pecados do mundo inteiro. Cristo chegou e venceu na cruz.
Por causa disso o Concílio disse, aqui no art. 3, que “A morte do Filho de Deus na cruz é o único sacrifício e a perfeita expiação dos pecados”. Ela é o único sacrifício (João 14,6; Atos 4,12; 1 Tm 2,5, 1 João 5,12; veja também Domingo 11 e 15 do Catecismo de Heidelberg) e a perfeita expiação dos pecados (Salmo 40, 7-8; Hb 10, 4 e 10; Hb. 9,12 e 26; Hb 10,14; veja também o Domingo 17 do Catecismo de Heidelberg e o Art. 21 da Confissão Belga).
Então, o sacrifício de Cristo é único e a perfeita expiação dos pecados. Qualquer pecador, até aquele que cometeu inúmeros pecados (menos o pecado contra o Espírito Santo), pode ser reconciliado pelo sacrifício de Cristo (veja Is 1,18). “O poder e o valor da morte de Cristo são infinitos, e por causa disso abundantemente suficientes para expiar os pecados do mundo inteiro”. O Sacrifício é único, perfeito, infinito e abundantemente suficiente, mas a graça é particular, só para os verdadeiros crentes. O Domingo 15 do Catecismo deve ser lido em combinação com o Domingo 7!
Os Remonstrantes apontaram para 1 João 2,2 para defender a sua doutrina da reconciliação geral. Ali está escrito: “e ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (NB o grego diz: pelo mundo inteiro!). O Sínodo também tratou este texto, e disse: A morte e o sofrimento de Cristo têm um valor, poder e preço tão grandes, que é abundantemente suficiente para expiar os pecados de todos e de cada pessoa individual que viveu, vive e viverá, ainda que existissem mais que mil mundos. Mas isso não quer dizer que Cristo recebeu ou conseguiu para todas pessoas a salvação, reconciliação, remissão dos pecados e a vida eterna. O sacrifício é abundante e suficiente, mas a graça de Deus é particular.
O outro parágrafo explica porque a morte de Cristo tem valor infinito. O Concílio apresenta três motivos:
- Porque Cristo é verdadeiro homem, santo e perfeito;
- Porque ele é verdadeiro Deus;
- Porque ele carregou a ira de Deus e a nossa maldição;
A última parte é necessária, porque os Remonstrantes negaram isso. Eles não queriam aceitar tal satisfação de Cristo. Cristo pagou um alto preço, sim, mas não tudo. Cristo pagou o preço para nos salvar da morte física, mas ele não pagou o preço para nos salvar da maldição e do inferno.
O Concílio considerou isso uma rejeição da justiça de Deus. Cristo não somente morreu a morte na cruz, mas durante a sua morte ele sentiu, também, a ira de Deus e a maldição do homem (veja Gálatas 3, 13 e 14)! Quando nós nos colocamos debaixo da cruz de Cristo, nós não devemos nos perguntar “quantas pessoas podem ser salvas pelo sacrifício de Cristo?”, mas a pergunta é “Cristo derramou seu sangue em favor de quem?”. E se tiverem dificuldade em encontrar a resposta, pensem nas palavras de Paulo em Rm 8, 30!