Capítulo II dos Cânones de Dordt:
A Morte de Cristo e a redenção do homem por meio dela.
No segundo capítulo dos cânones, encontramos a segunda heresia que foi condenada pelo Sínodo. O primeiro capítulo explicou a doutrina bíblica a respeito da eleição e rejeição; o segundo capítulo fala sobre a morte de Cristo e a salvação dos homens. Uma das divergências foi a questão de Cristo ter morrido para salvar todos os homens.
Esta questão já foi tratada no Catecismo de Heidelberg, Domingo 7. Veja a pergunta 20: Todos os homens, então, tornam-se salvos por Cristo, assim como pereceram em Adão? A resposta é: Não! Somente aqueles que, pela verdadeira fé, são unidos a Cristo e aceitam todos os seus benefícios. Esta doutrina é bíblica, considerando os textos que foram mencionados em relação a isso. Porém, os Remonstrantes não concordaram com isso.
Eles consideraram o sacrifício de Cristo suficiente para salvar a todos; mas a salvação dependia da reação do homem: se o homem aceitaria a fé. Isso dependia do livre arbítrio do homem. De acordo com os Remonstrantes, o homem não era morto em pecado, mas estava doente e ainda tinha poder para usar o livre arbítrio dele.
Então, por um lado, houve outra opinião sobre o pecado original e sobre o livre arbítrio do homem; e, por outro lado, houve, também, uma opinião diferente sobre o valor do sacrifício de Cristo e sobre o papel de Cristo como Mediador.
- Sobre a necessidade e o caráter da morte de Cristo (Artigos 1 e 2);
- Sobre o valor do sacrifício de Cristo (Artigos 3 e 4);
- Sobre a proclamação do Evangelho a todos os homens e a dupla reação dos homens (Artigos 5, 6 e 7);
- Cristo fez o sacrifício de acordo com o plano de Deus em favor dos eleitos (Artigos 8 e 9);
Um dos textos que sempre causou confusão foi 1 Tm 2, 1-7 [seria bom ler o texto agora!].
O texto começa a falar sobre a prática de orações e ações de graças em favor de todos os homens. Não somente em favor dos irmãos, mas também em favor das autoridades, para que vivamos uma vida tranquila. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos.
Uma das acusações dos Remonstrantes tinha a ver com a pregação do evangelho. Se a salvação não seria para todos, o evangelho também não seria! O Sínodo não concordou com isso e, por causa disso, declarou claramente (CdD II,5) que a promessa do Evangelho deve ser anunciada e proclamada, sem discriminação, a todos os povos e a todos os homens, com a ordem de que se arrependam e creiam.
Mas não é a tarefa da igreja dizer a todos: Cristo morreu em seu lugar e todos os seus pecados são perdoados e reconciliados. A pregação apostólica é a seguinte: Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus (2 Co 5, 19-21).
A perfeita satisfação, justiça e santidade de Cristo não são para todos, somente para os verdadeiros crentes, que são unidos a Cristo por meio do Espírito dele e que aceitam todos os seus benefícios, sem nenhum mérito deles, por pura graça (Domingo 7 e 23). Veja também Gl 2,20 e Rm 5,11. O Evangelho da reconciliação é universal e deve ser pregado até aos confins da terra, mas só vai crescer e produzir frutos nos lugares que foram lavrados pelo Espirito Santo (III, 11);