17. Filhos de crentes que morrem na infância
Devemos julgar a respeito da vontade de Deus com base em Sua Palavra. Ela testifica que os filhos de crentes são santos, não por natureza, mas em virtude da aliança da graça, na qual estão incluídos com seus pais. Por isso, os pais que temem a Deus não devem ter dúvida da eleição e salvação de seus filhos, dos que Deus chama desta vida ainda na infância.
Os oponentes não acreditavam no pecado original. As crianças recém nascidas eram inocentes, ainda não praticaram o bem nem o mal, então, baseado nisso, não eram condenadas, mas salvas.
Observe o grande contraste com a doutrina da Forma do Batismo. Os pais confessam, na primeira pergunta: “Vocês reconhecem que nossos filhos, embora concebidos e nascidos em pecado e por isso sujeitos a toda sorte de miséria, até a condenação mesmo, são santificados em Cristo e, portanto, devem ser batizados como membros da igreja dele?”.
Já bem antes do Sínodo de Dordt havia pastores na Holanda que não acreditavam no pecado original e, por causa disso, criticaram o Catecismo de Heidelberg, que ensinava isso. Veja a Pergunta 7 do Catecismo de Heidelberg: “De onde vem, então, a natureza corrompida do homem?” Resposta: Da queda e desobediência de nossos primeiros pais, Adão e Eva, no paraíso. Ali nossa natureza tornou-se tão envenenada que todos nós somos concebidos e nascidos em pecado.” Verifique também os textos: Jó 14,4; Sl 51:5 e Jo 3,6.
Aqueles pastores zombaram da doutrina reformada e disseram: “Muitos filhos inocentes de pais crentes são arrancados do seio de suas mães e, tiranicamente, lançados no inferno, de tal modo que nem o sangue de Cristo, nem o batismo nem as orações da Igreja no ato do batismo lhes podem ser proveitosos”.
O Sínodo de Dordt registrou essas acusações no final dos Cânones, na conclusão. Eles registraram e também declararam: “Há muitas outras coisas semelhantes que as Igrejas Reformadas não apenas não confessam, mas também repelem de todo coração”.
Então, o que as igrejas confessavam? O Artigo 17 fala sobre isso: “Devemos julgar a respeito da
vontade de Deus com base em Sua Palavra. Ela testifica que os filhos de crentes são santos, não por natureza, mas em virtude da aliança da graça, na qual estão incluídos com seus pais. Por isso, os pais que temem a Deus não devem ter dúvida da eleição e salvação de seus filhos, dos que Deus chama desta vida ainda na infância.
O Sínodo aponta para a Palavra de Deus. Na margem do texto encontramos três textos: Gn 17:7; At 2, 39 e 1 Co 7,14. Seria bom ler esses textos antes de prosseguir.
Em Gênesis 17:7 Deus fala e diz a Abraão, o Pai de todos os crentes: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência”. Deus fez uma aliança com Abraão e com a sua descendência. Não somente com o crente Abraão, mas também com seus filhos, que ainda não eram crentes. Eles deviam ser circuncidados no oitavo dia. Eles faziam parte da Aliança, antes mesmo de ter fé ou de ter feito boas obras. Porque não é baseado na fé, ou nas obras, mas na graça de Deus. Chamamos essa aliança de “A aliança da graça”!
Em Atos 2, 39 o apóstolo Pedro diz para a descendência de Abraão: “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar”. Devemos ler este texto dentro do contexto da aliança: a promessa é para os pais e para os seus filhos. Estes fazem parte da aliança.
1 Co 7, 14 é um texto importante, que recebeu um papel crucial na Forma do Batismo das Igrejas Reformadas e que funciona aqui, neste artigo, quando se fala sobre as crianças. O texto diz: “Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos”. O texto fala sobre as crianças que nasceram num casamento misto, o casamento entre um crente e descrente. O crente define o caráter do casamento. Cristo governa esse casamento por meio do crente, e por causa disso as crianças são santas, separadas do mundo para servir a Deus. Porque o pai ou a mãe crente cria os filhos para servir a Deus. Então, se esse é o caso das crianças que nasceram num casamento misto, o que devemos dizer a respeito das crianças que nasceram num casamento cristão, onde pai e mãe são unidos na fé em Cristo, onde Cristo governa a casa por meio do seu Espírito e da sua Palavra? Em tal casamento as crianças são santas, santificadas em Cristo Jesus, e por causa disso foram batizadas. Elas estão incluídas na aliança, e por causa disso recebem o sinal da aliança.
A santidade que é mencionada aqui não é uma santidade interna. Por natureza, as crianças são impuras. Os nossos filhos são concebidos e nascidos em pecado, mas em virtude da aliança da graça, eles são santificados em Cristo Jesus, por meio dos seus pais. Eles estão separados do mundo para servir a Deus. Esse é o sentido de ser “santo”.
Isso não quer dizer que as crianças não tem pecados e são inocentes, como os remonstrantes e os descendentes dos remonstrantes dizem hoje em dia. As crianças são pequenos pecadores e precisam do sangue de Cristo, precisam ser batizadas, precisam ser criadas nos caminhos do Senhor e precisam das orações da igreja.
Alguém poderia dizer perguntar: “Por quê? Quem é eleito não precisa disso”. Veja Rm 9,11: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama)”. Tudo já está definido. Jacó era eleito, e Esaú, não. Tudo já estava definido, já antes da fundação do mundo. Por causa disso os remonstrantes disseram: “Muitos filhos inocentes de pais crentes são arrancados do seio de suas mães e, tiranicamente, lançados no inferno, de tal modo que nem o sangue de Cristo, nem o batismo nem as orações da Igreja no ato do batismo lhes podem ser proveitosos”.
O que devemos responder a respeito disso?
Veja Efésios 1,4: somos escolhidos, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis.
Por causa disso precisamos ser batizados, para que sejamos santos e irrepreensíveis;
Por causa disso precisamos ser criados nos caminhos do Senhor, para que sejamos santos e irrepreensíveis;
Por causa disso vamos para a igreja, recebemos aulas de Catecismo e ouvimos os sermões, para que sejamos santos e irrepreensíveis neste mundo!
Deus nos chama, nos justifica e nos glorifica. Veja Romanos 8,30.
O que pensar dos pais que perderam seu filho e que procuram a sua consolação fora da palavra de Deus?
- A mãe teve um sonho e ela viu o filho dela no meio de uma multidão de crianças, perante o trono de Deus, glorificando o nome dele.
- Certos pais se fortalecem no texto que leram uma semana depois do enterro. O texto que diz: Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente;
- O testemunho de parentes, ou irmãos da igreja, que dizem que eles receberam um testemunho da salvação do filho que morreu;
Esses testemunhos podem consolar, mas não oferecem certeza. Os pastores do Sínodo disseram: vamos abrir a palavra de Deus. O que Deus prometeu aos crentes?
Veja a oração de graças no final da Forma do Batismo infantil das igrejas Reformadas:
“Onipotente e misericordioso Deus e Pai,
Nós te agradecemos e louvamos, pois tens perdoado todos os nossos pecados e os de nossos filhos
Pelo sangue do teu Filho amado, Jesus Cristo.
Agradecemos-te porque nos recebeste por teu Espírito Santo como membros do teu único Filho.
Assim nos adotaste como teus filhos
E selaste e confirmaste isso no santo batismo.”
Amém!