Como a doutrina da reprovação deve ser recebida
Há pessoas que não sentem fortemente a fé viva em Cristo, nem confiança firme no coração, nem boa consciência, nem zelo pela obediência filial e pela glorificação de Deus por meio de Cristo. Apesar disso, elas usam os meios pelos quais Deus opera tais coisas em nós de acordo com a Sua promessa. Elas não devem se desanimar quando a reprovação for mencionada nem contar a si mesmos entre os reprovados. Pelo contrário, devem continuar diligentemente no uso destes meios, desejando fervorosamente dias de graça mais abundante e esperando-os com reverência e humildade.
Os que desejam seriamente se converter a Deus, agradar só a Ele e serem libertos do corpo de morte, mas ainda não podem chegar ao ponto que gostariam, no caminho da piedade e da fé, não devem se assustar de maneira nenhuma com a doutrina da reprovação. O Deus misericordioso prometeu não apagar a torcida que fumega, nem esmagar a cana quebrada. Mas esta doutrina é certamente assustadora para os que não contam com Deus e o Salvador Jesus Cristo e se entregaram completamente às preocupações do mundo e aos desejos da carne, enquanto não se converterem seriamente a Deus.
Eu já disse, anteriormente, que o Sínodo de Dordt fala pastoralmente sobre a doutrina da eleição e da reprovação. Essa doutrina não é uma teoria que deve ser tratada entre professores, mas ela é uma doutrina que vive no coração do povo; os pastores encontram essa doutrina durante as suas visitas. Quando eles visitam os idosos e os doentes; quando eles estão ao leito da morte e ouvem as dúvidas e o medo que esses têm no coração, observando a sua própria vida: a fraqueza da fé, as falhas na vida, os erros e os pecados que cometeram.
Prestem atenção em como eles falam sobre as pessoas que encontram pastoralmente:
- As pessoas que não sentem fortemente a fé viva em Cristo;
- Elas não tem confiança firme no coração;
- Nem boa consciência;
- Nem zelo pela obediência filial
- Nem zelo pela glorificação de Deus por meio de Cristo;
Quantos jovens não vivem assim? Na minha vida pastoral vejo jovens que são assim; e existem muitas pessoas em grandes igrejas (igrejas do povo) que experimentam as mesma coisas. Elas são membros da igreja, foram batizados, visitam a igreja, não são descrentes, mas também não são crentes zelosos; são crentes fracos.
Eles usam os meios pelos quais Deus opera a fé em nós de acordo com a sua promessa. Elas vão para igreja, ouvem a pregação, talvez participem da Santa Ceia, mas não sentem o poder do Espírito Santo em sua vida, nem experimentam fortemente a fé viva em Cristo.
O profeta Isaías chamou essas pessoas de ‘a torcida que fumega’. O fogo está quase apagado e agora ainda sai fumaça. A fé, o fogo, quase morreu. A cana perdeu sua força e quebrou. Como tratar esse tipo de membro?
“Elas não devem se desanimar quando a reprovação for mencionada nem contar a si
mesmos entre os reprovados. Pelo contrário, devem continuar diligentemente no uso destes
meios, desejando fervorosamente dias de graça mais abundante e esperando-os com reverência e humildade”.
A vida de um crente conhece os momentos altos e baixos. Tem períodos em que o crentes sentem-se bem; sentem-se perto de Deus; sentem o poder de Deus em sua vida; sentem uma fé viva em Cristo. Eles se sentem escolhidos e zelosos; mas há, também, momentos em que o crente sofre por momentos ruins; veja os Salmos. Davi conhecia seus momentos altos e baixos; momentos em que ele achou que Deus se afastou dele (Salmo 22!); momentos em que ele não sentiu o poder de Deus em sua vida; momentos em que ele teve uma fé fraca (veja o Salmo 42, 102); houve momentos em que ele pensava que Deus o tinha rejeitado (Salmo 27,9; 51,13; 71,9);
O pastores do Sínodo de Dordt conheciam as suas ovelhas e as angústias delas, os seus sofrimentos fisícos e espirituais. Eles aprenderam do Senhor (Isaías 43) que eles não devem apagar a torcida que fumega, nem jogar fora a cana quebrada. Mas devem animar os irmãos e orar com eles e exortá-los para continuar a usar os meios da graça, para que cheguem dias de graça mais abundante. Eles devem abrir a palavra e mostrar como os crentes na Bíblia continuaram a esperar pela graça de Deus.
E os que desejam seriamente se converter a Deus, agradar só a Ele e serem libertos do corpo de morte, mas ainda não podem chegar ao ponto que gostariam no caminho da piedade e da fé, não devem se assustar de maneira nenhuma com a doutrina da reprovação.
A prática pastoral é sempre assim. Quando o pastor prega contra aqueles que não são fiéis, eles não estão na Igreja, e a pregação é direcionada para os crentes que são fiéis. Os crentes que são sérios se assustam ouvindo a pregação que fala sobre a doutrina da reprovação. Porque ninguém é perfeito. Então, os que desejam seriamente se converter a Deus, agradar só a Ele e serem libertos do corpo de morte, mas ainda não conseguem chegar ao ponto que gostariam no caminho da piedade e da fé, não devem se assustar de maneira nenhuma com a doutrina da reprovação.
Quem deve se assustar são os que não contam com Deus e o Salvador Jesus Cristo e se entregaram completamente às preocupações do mundo e aos desejos da carne, enquanto não se converterem seriamente a Deus.
Prestem atenção na referência à parábola do semeador. Os “crentes” que se entregaram completamente às preocupações do mundo, outros se entregam completamente aos desejos da carne; em resumo podemos dizer que eles não se converteram seriamente a Deus. Eles conhecem a verdade; eles conhecem Cristo, mas não contam com Deus nem com o Salvador Jesus Cristo. Veja os crentes falsos de Hebreus 10,29. Para eles será horrível cair nas mãos de Deus vivo (Hb 10, 31).
Veja também o tom pastoral da carta aos Hebreus 10, 35-39:
“Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará; todavia o meu justo viverá pela fé! E se retroceder, nele não se compraz a minha alma. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma”. Amém.