13. O valor da certeza da eleição
A consciência e a certeza da eleição fornecem diariamente aos filhos de Deus maior motivo para se humilhar perante Ele, para adorar a profundidade de Sua misericórdia, para se purificar, e para amar ardentemente Aquele que primeiro tanto os amou. Contudo, absolutamente, não é verdade que esta doutrina da eleição e a reflexão sobre a mesma os façam relaxar na observação dos mandamentos de Deus ou rendam segurança falsa. No justo julgamento de Deus, isto ocorre frequentemente àqueles que se vangloriam levianamente da graça da eleição, ou facilmente falam acerca disto, mas se recusam a andar nos caminhos dos eleitos.
No artigo anterior, confessamos: “Os eleitos recebem, no devido tempo, a certeza da sua eterna e imutável eleição para a salvação, ainda que em vários graus e em medidas desiguais”. Neste artigo o Sínodo fala sobre o efeito dessa certeza da eleição na vida do crente. Eles tocaram neste assunto porque, pastoralmente, os pastores observavam várias reações e atitudes dentro da igreja, entre os membros.
Eu vi jovens que eram membros de uma Igreja Reformada onde a predestinação dominava a sua vida inteira. A grande pergunta na vida daqueles crentes era sempre: sou eleito? Eles estavam esperando uma revelação para receber a certeza da sua eleição. Muitas pessoas e especialmente esses jovens não tinham recebido tal revelação, e por causa disso reagiram com indiferença, dizendo: não sei se sou eleito, então é melhor aproveitar a vida! Se Deus quiser, Ele me chamará e me revelará se sou eleito. Outros, que disseram que tinham certeza da sua eleição, demonstraram também uma vida negligente, dizendo: sou eleito, nada pode acontecer comigo. Essas pessoas usaram a falta ou a suposta presença da certeza da eleição como desculpa para dar continuidade à sua vida pecaminosa; mas as Sagradas Escrituras, e, baseado nessas, o 13º cânone de Dordt, condenam tal atitude e negam que a certeza da eleição tenha tal efeito na vida do crente.
Há um encontro entre os Judeus e Jesus em João 8 (39-47). Os Judeus confiavam em sua eleição, porque se consideravam descendência de Abraão. Mas essa segurança era falsa. Por causa disso, Jesus lhes disse (39): “se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Mas agora procuras a matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão”. Jesus sugeriu que eles não eram verdadeiros filhos de Abraão, porque eles não praticavam as obras de Abraão. Os Judeus reagiram logo e disseram (41): “não somos bastardos, temos um pai, que é Deus!”. Eles se consideravam filhos de Deus. Eles foram eleitos por Deus! Mas prestem atenção ao que Jesus lhes disse (42): “Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente me havíeis de amar, porque eu vim de Deus”. Em outros palavras: o verdadeiro eleito, o verdadeiro filho de Deus, reconhece as coisas que vêm de Deus e faz o que Deus quer: amar o grande Filho de Deus! Mas eles não eram assim. Por causa disso, Jesus disse: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos”. Eles não eram filhos de Deus, e por causa disso eles não compreenderam a linguagem de Jesus (43) e foram incapazes de ouvir a palavra dele. A verdade é que não eram eleitos. Veja vs 47: “quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus”!
Os que são de Deus amam Deus, ouvem as palavras dEle e seguem o Seu caminho, que é Cristo Jesus. Por isso o Art. 13 diz: “A consciência e a certeza da eleição fornecem diariamente aos filhos de Deus maior motivo para se humilhar perante Deus, para adorar a profundidade de Sua misericórdia, para se purificar, e para amar ardentemente Aquele que primeiro tanto os amou”. Esse é o verdadeiro efeito da eleição na vida do crente.
- A Eleição nos torna humildes perante Deus.
Quem recebeu o testemunho do Espírito Santo, que lhe deu a certeza de que é filho de Deus (Rm 8,16), se sente também como um filho perante Deus; ele ou ela sente o temor de Deus no coração, um amor e um respeito profundo, como fala o Salmo 131:
“Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes.
Não me envolvo com coisas grandiosas, nem maravilhosas demais para mim.
De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma.
Sou como uma criança, recém-amamentada por sua mãe;
A minha alma é como essa criança. Ponha a sua esperança no Senhor, ó Israel,
Desde agora e para sempre!”.
- A Eleição nos leva à Adoração.
Muitas pessoas consideram a doutrina da eleição como um quebra-cabeça. Elas observam essa doutrina e pensam e pesquisam, porque não entendem; mas prestem atenção ao que Paulo faz quando trata dessa doutrina! Veja Romanos 11, 33-36:
“Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!
Quem conhece a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?
Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense?
Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas.
A Ele seja a glória para sempre! Amém!”
- A Eleição nos leva à Santificação.
Veja Efésios 1, 4: “Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em amor na sua presença”. Os eleitos são chamados para mostrar uma vida em santidade e amor. Eles querem ser como o Pai no céu, que disse: Sejam santos, porque eu sou santo (1 Pedro 1,15-16). É impossível se glorificar na eleição e ao mesmo tempo viver no pecado.
- A Eleição nos leva ao amor.
Veja 1 João 4, 7-12.
- A Eleição não gera pessoas negligentes.
Esta é uma das críticas que os oponentes da doutrina da predestinação tinham: “A certeza da eleição torna os crentes negligentes”. Eles vivem como se estivessem no ônibus que os leva para a vida eterna; não precisam fazer mais nada. O destino já está garantido.
Do ponto de visto dos Arminianos, a vida dos reformados é assim, porque de acordo com a doutrina dos Arminianos nós devemos crer, devemos fazer boas obras, devemos ser zelosos para que Deus nos eleja; nada é certo. A eleição e a salvação dependem do esforço do nosso livre arbítrio. Quem não crê pode perder a sua salvação. Os Remonstrantes ensinam isso, e eles acham que a doutrina de Dordt cria pessoas negligentes. Porém o Sínodo rejeitou essa crítica, tanto aqui como também no Capítulo V, artigos 12 e 13.
- A certeza de preservação é um incentivo à piedade
A certeza de perseverança não faz, de maneira nenhuma, com que os verdadeiros crentes se orgulhem e se acomodem. Ao contrário, ela é a verdadeira raiz da humildade, reverência filial, verdadeira piedade, paciência em toda luta, orações fervorosas, firmeza em carregar a cruz e confessar a verdade e alegria sólida em Deus. Além do mais, a reflexão deste benefício é para eles um estímulo para praticar séria e constantemente a gratidão e as boas obras, como é evidente nos testemunhos da Escritura e nos exemplos dos santos.
- A certeza de que são preservados não leva ao descuido
Quando pessoas são levantadas de uma queda no pecado, começa a reviver a confiança na perseverança. Isto não produz descuido ou negligência quanto à piedade; em vez disto, produz maior cuidado e diligência para guardar os caminhos do Senhor, já preparados, para que, andando neles, possam preservar a certeza da perseverança. Quando fazem isto, o Deus reconciliado não retira de novo Sua face delas por causa do abuso da Sua bondade paternal (a contemplação dela é para os piedosos mais doce que a vida, e sua retirada mais amarga que a morte), e elas não cairão nos tormentos mais graves da alma (Ef 2.10).
Os profetas pregavam contra o descuido e a negligência: “Ai dos que andam à vontade em Sião” (Am 6,1): “Tremei, mulheres que viveis despreocupadamente; turbai-vos, vós que estais confiantes” (Is 32,11)”. Só os descrentes vivem assim. Só os hipócritas. Pessoas que falam sobre a sua eleição, mas não a praticam. O verdadeiro filho conhece o pai, e faz o que Ele quer.