1.8: A eleição não é variada.
- Um só decreto de eleição
A eleição não é variada, mas ela é única e para todos os que são salvos tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, pois a Escritura nos prega um único bom propósito e conselho da vontade de Deus, pelo qual Ele nos escolheu desde a eternidade, tanto para a graça como para a glória, assim também para a salvação e para o caminho da salvação, o qual preparou de antemão para que andássemos nele (Ef 1,4-5; 2,10).
“A eleição não é variada”. Quando li isso pela primeira vez, estranhei. Sempre pensei que a eleição fosse única e igual para todos os que serão salvos. O que isso quer dizer: “A eleição (não) é variada”? Depois descobri que o Sínodo tinha um motivo para falar sobre isso, porque os Remonstrantes defendiam que a eleição é variada. Eles tinham várias distinções que – no fundo do fundo – estão relacionadas com o princípio deles de que a eleição não está fundada na misericórdia de Deus, mas no coração do homem.
Quem quer saber mais sobre isso deve continuar a leitura e procurar, no fim do capítulo, as heresias, especialmente a segunda heresia. A segunda heresia dos remonstrantes diz o seguinte:
“A eleição divina para a vida eterna é variada. Há uma eleição geral e indefinida e uma eleição especial e definida. Esta última é subdivida numa eleição completa e incompleta. A eleição incompleta pode ser revogada: ela não é definitiva e depende de certas condições. Em contrapartida, a eleição completa não pode ser revogada: ela é definitiva e incondicional. E mais ainda: há uma eleição para a fé e outra eleição para a salvação. Isso significa que a eleição para a fé justificadora não é necessariamente a eleição decisiva para a salvação”.
Vamos observar essas distinções de perto. Em primeiro lugar, os remonstrantes fazem uma distinção entre uma eleição geral e especial, uma eleição indefinida e definida.
A eleição geral é a eleição dos crentes. Deus decidiu salvar todos os que crerem em Cristo e persitirem nessa fé. Essa eleição é geral e completamente indefinida. Ela define o estado em que uma pessoa deve estar para participar da salvação; e não existe a certeza de que alguém atingirá esse estado.
A eleição especial se refere a certas pessoas. Por causa disso ela pode ser definida, também, como eleição definida. Ela é a eleição de certos crentes, a quem Deus, de antemão, viu que iam crer e iam persitir na fé. Essa eleição especial pode ser distingida numa eleição eterna ou temporária.
Embora a eleição seja eterna, ela é também imperfeita e condicional. Os remonstrantes disseram, por exemplo, que Deus decidiu na eternidade salvar Pedro, SE ele cresse. Ele pode ser salvo, se ele cumprir a exigência que foi definida na decisão geral: Desu quer salvar crentes. Então, de acordo com a eleição eterna, ainda não está certo se Pedro herdará a vida eterna. Isso depende de Pedro: será que ele viverá de acordo com a exigência que Deus definiu? Se for, haverá uma decisão de Deus durante a vida de Pedro, em que lhe será dada a salvação. Por causa disso os remonstrantes falavam de uma eleição temporária. E essa eleição temporária podia ser distingida entre uma eleição não decisiva e decisiva. Continuando com o exemplo de Pedro: se Deus, na história, observa Pedro como discípulo do Senhor, como homem de fé, lutando pelo nome de Jesus, o Senhor dirá: Eu vou salvar Pedro, que vejo agora como crente, se ele persistir na fé. Então, essa eleição ainda não é definitiva. Se Pedro ficar no estado em que está agora, ele será salvo, mas se ele perder a sua fé, ele ainda poderá perder a sua salvação. A decisão definitiva acontecerá na hora da morte. Se Pedro persisitir na fé na hora da morte, e morrer em Cristo, Deus o salvará para a vida eterna. Essa eleição definitiva se refere só à pessoa que morrer na fé. Ela depende da fé e da persistência até o último momento.
Além disso, os remonstrantes faziam também uma distinção entre a eleição dos santos do Antigo Testamento e os do Novo Testamento. Claramente eles ensinavam que a eleição das pessoas do Antigo Testamento era diferente do que a eleição daqueles do Novo Testamento. Eles acreditavam numa distinção entre o Israel do AT e a Igreja do NT. As promessas feitas a Israel eram promessas materiais, como, por exemplo, a terra prometida, enquanto as promessas do NT são espirituais.
Os Remonstrantes ensinavam também que há uma diferenca entre a eleição para crer e uma eleição para a salavação; quer dizer, alguém pode chegar a crer, sem chegar à salvação. Essa teoria dos remonstrantes tirava dos crentes toda certeza da fé e toda esperança para a vida eterna. Até o último momento as pessoas ficam com uma incerteza profunda se seria salvo, sim ou não. O Sínodo refutou essa ideia dos remonstrantes e disse:
“Isto é uma invenção da mente humana, sem nenhuma base na Escritura. Essa invenção corrompe a doutrina da eleição e quebra a corrente de ouro da nossa salvação. “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8,30).
A Bíblia ensina claramente que a eleição não é variada, mas ela é única e para todos os que são salvos tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, pois a Escritura nos prega um único bom propósito e conselho da vontade de Deus, pelo qual Ele nos escolheu desde a eternidade, tanto para a graça como para a glória, assim também para a salvação e para o caminho da salvação, o qual preparou de antemão para que andássemos nele (Ef 1,4-5; 2,10).
Tanto os Israelitas como também os de fora de Israel somente podem ser salvos pela fé em Cristo Jesus. Não há outro nome dado embaixo do céu pelo qual podemos ser salvos, disse Pedro em Atos 4, 12; e o mesmo Pedro disse, em Atos 15: 11: “Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram”. Pedro não acreditava numa eleição variada, mas há uma eleição para Judeus e gentios.
E essa eleição única oferece tudo e leva o homem para a vida eterna. Ef. 1, 4-5 ensina isso. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de benção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito da sua vontade”.
O Sínodo apontou também para Efésios 2, 10. Lá está escrito: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Isso quer dizer o quê? Isso quer dizer que Deus nos criou em Cristo para fazer boas obras. Este é o objetivo com o qual Ele nos criou. Paulo até diz que Deus preparou essas boas abras de antemão. NO seu Conselho eterno, Deus já definiu o que vamos fazer. Ele nos dá amor e vontade para fazer essas boas obras. Para que andemos nelas! Isso será a prática da nossa vida: andar para fazer boas obras. Somos membros do corpo de Cristo, Cristo nos usa para fazer boas obras. Ele mesmo disse: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai que está nos céus”.