- A procriação da corrupção
Depois da queda, o homem corrompido gerou filhos corrompidos. Então a corrupção, de acordo com o justo julgamento de Deus, passou de Adão até todos os seus descendentes, com exceção de Cristo somente. Não passou por imitação, como os antigos pelagianos afirmavam, mas por procriação da natureza corrompida.
- O resultado da queda
Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de qualquer ação que os salve, inclinados para o mal, mortos em pecados e escravos do pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador, nem desejam, nem tampouco podem retomar a Deus, corrigir suas naturezas corrompidas ou ao menos estar dispostos a essa correção.
Este estudo serviria bem para um grupo pedagógico ou um grupo de professores, porque nesta parte dos Cânones de Dordt somos confrontados com as ideias básicas da pedagogia que existiam na Idade Média e que foram contestadas pelas Igrejas Reformadas. O Estudo das Sagradas Escrituras mudaram as opiniões dos Reformadores a respeito da educação dos nossos fihos.
A ideia básica da Idade Média era que as crianças, quando nascem, são inocentes. Elas são como os anjos e não fazem nenhum mal. Quando as crianças nascem, estão livres do pecado, mas elas aprendem isso por imitação. Observando os pais, ou os irmãos, fazendo coisas erradas, elas logo aprendem e imitam essas coisas. Com certeza, elas aprendem os palavrões dessa maneira, mas quando vamos observar a juventude dos nossos filhos, devemos chegar à conclusão de que a corrupção deles não vem por imitação, mas por procriação da natureza corrompida. Não precisamos de um grupo de psicólogos para chegar a essa conclusão; a maioria aqui é mãe, e as próprias mães podem e devem confirmar se a corrupção do seu filho é por procriação ou por imitação. Se for por imitação, quer dizer que a própria mãe ensinou o filho dela a ser egoísta? Vou dar três exemplos.
- O exemplo do “isso é meu”. Duas crianças estão brincando, e uma está com um brinquedo que a outra também gostaria de estar. A inveja já está no coração de uma criança de dois anos. Ela estende a mão para pegar o que está nas mãos da colega, que segura o brinquedo com as duas mãos e grita: “Isso é meu!”. A outra não concorda e grita ainda mais alto: “Não, é meu!” Em poucos segundos, uma das mães é alertada e vem como pacificadora para acabar com a mini guerra entre as duas coleginhas. A mãe não ensinou esse comportamento, e deve se esforçar para implantar uma filosofia mais altruísta na cabeça da filhinha. A reação natural da criança já estava lá desde o nascimento: eu, eu, eu e o resto morreu!
- O segundo exemplo vem do primeiro ano, logo depois do nascimento. A criança precisa comer, e, num certo momento, ela descobre que a mãe é sensível ao choro dela. Se ela estiver com fome e começar a chorar, a mãe aparecerá para lhe amamentar. Então, de acordo com a lei do “eu, eu, eu”, o nosso filho esperto aprende o que é chantagem. Se ele quer alguma coisa, ele começa a chorar para que os seus desejos sejam cumpridos. Foi a mãe quem ensinou isso? Foi por imitação que a criança aprendeu isso? Não! O “eu, eu eu, e o resto morreu” já estava nos seus genes. O terceiro exemplo prova isso!
- Vamos observar a criação dos nossos filhos. Não preciso dar uma aula sobre sexo aqui, porque todo mundo já sabe como as coisas funcionam. O início de toda vida nova está no saco testicular do pai, que está cheio de espermatozoides. Todos estão esperando pelo momento em que devem correr para chegar ao ovócito da mulher. Geneticamente, o espermatozoide já tem uma filosofia. Esse filosofia é “eu, eu, eu e o resto morreu”. O que, na verdade, acontece se o primeiro chegar e ganhar. Ninguém ensinou isso. Está dentro da natureza corrompida, que herdou do pai.
A natureza ensina isso, mas a Bíblia também. Encontramos o exemplo mais claro em Salmos 51,2-5, no qual o profeta Davi disse: “(…) apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões e o meu pecado está sempre diante de mim. [-] Eu nasci na iniquidade e em pecado me concebeu a minha mãe.”. Davi, analisando a sua vida e pensando sobre a sua natureza pecaminosa, chega à conclusão de que ele é pecaminoso desde o seu nascimento; pior ainda: desde o momento da concepção. A natureza corrompida vem por procriação, e não por imitação.
Jó disse algo semelhante (14,4): “Quem, da imundícia, poderá tirar coisas pura? Ninguém! E Bildade confirmou isso (25,4): Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?
E pensem também no que Paulo disse (Rm 5,12): “Assim, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou por todos os homens, porque todos pecaram”.
Baseado nisso, os teólogos do Sínodo disseram (art. 2):
Depois da queda, o homem corrompido gerou filhos corrompidos. Então, a corrupção, de acordo com o justo julgamento de Deus, passou de Adão até todos os seus descendentes, com exceção de Cristo somente. Não passou por imitação, como os antigos pelagianos afirmavam, mas por procriação da natureza corrompida.
Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de qualquer ação que os salve, inclinados para o mal, mortos em pecados e escravos do pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador, nem desejam, nem tampouco podem, retomar a Deus, corrigir suas naturezas corrompidas ou ao menos estar dispostos a essa correção.
Veja ainda Rm 3, 9-18, onde Paulo deixa bem claro que todos os homes são pecadores e inclinados para todo mal. Não há quem busque a Deus. Deus busca os seus pelo Espírito Santo Regenerador (João 3, 3-6).