11.A Eleição é imutável
Como Deus é supremamente sábio, imutável, onisciente, e Todo-Poderoso, assim Sua eleição não pode ser cancelada e depois renovada, nem alterada, revogada ou anulada; nem mesmo podem os eleitos ser rejeitados, ou o número deles ser diminuído.
Heresia 6 – “A eleição para salvação não é imutável em todos os casos. Alguns dos eleitos podem se perder, e, de fato, se perdem eternamente, não obstante algum decreto de Deus”.
Refutação – Esta heresia grosseira faz Deus mutável, destrói o conforto dos crentes quanto à constância de Sua eleição, e contradiz a Escritura, que ensina: “os eleitos não podem ser enganados” (Mt 24.24); “E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu …” (Jo 6.39); “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” (Rm 8.30).
Tanto os Reformados como também os Arminianos acreditam na imutabilidade de Deus. Isso fica claro nos pontos sobre quais ambos concordaram em 1611, em La Haye. Ambos declararam:
- Que Deus tinha feito um decreto eterno e imutável, antes da fundação do mundo, a respeito da salvação dos homens;
- Deus fez esse decreto a respeito das pessoas que, dentro do gênero humano que caiu em pecado, pela graça do Espírito Santo creem em Jesus Cristo, seu Filho, e que perstistem nessa fé e obediência da fé até o final.
- Deus fez esse decreto em Jesus Cristo, o Filho dele.
Então, houve uma concordância em 1611, mas o Sínodo observou um erro aqui. O problema está nas coisas que os Remonstrantes não dizem. Os Remonstrantes acreditam que Deus estabeleceu uma regra, que estaria de acordo com João 3,16: quem crê em Jesus Cristo será salvo, quem não crê será condenado. Deus é fiel a essa regra. Agora, depende dos homens se serão salvos, sim ou não; depende da fé deles. Então, Deus apresenta o evangelho por meio da pregação, e as pessoas podem o aceitar ou rejeitar, porque são livres. Pode ser que alguém tenha sido destinado para a vida eterna por Deus, mas essa pessoa a rejeitou por meio do livre arbítrio dela, e por causa disso será condenada.
Podemos pensar em 1 Samuel 15, que fala sobre o Rei Saul. Deus o tinha escolhido para ser rei de Israel, mas Saul foi desobediente e, por causa disso, foi rejeitado. Então, veio a palavra de Deus a Samuel (vs. 11) dizendo: “Arrependo-me de haver constituído Saul rei, porquanto deixou de me seguir e não executou as minhas palavras”. Baseado nessas palavras se fala do “Arrependimento de Deus”. Mas o mesmo capítulo diz, no vs 29: “A Glória de Israel não mente, nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa”. (veja também Nm. 23,19).
Há muita confusão acerca disso. Por um lado, Deus é imutável, não mente, e não se arrepende, mas por outro lado Ele se arrepende, sim. Como devemos entender isso?
Uma pessoa tem que saber que Deus fala dentro do contexto da Aliança que ele fez com Israel. Veja Dt. 28! Deus oferece bençãos aos obedientes e maldições aos desobedientes. Então, depende da atitude do homem como Deus vai reagir.
Então, se o homem mudar e se tornar desobediente, Deus não muda, Ele permanece constante, mas Ele reage de acordo com o aviso que tinha dado anteriormente. Então, em si, Deus não muda de opinião; Ele odeia a desobediência. Ele se afastará daquele que se afasta dele. Deus é assim. Mas, por outro lado, Deus ama o obediente e perdoa quem se ‘arrepende’ e O busca. Dentro da Aliança, Deus pode se ‘arrepender’ para o mal e para o bem. Mas Ele mesmo não muda.
A palavra “arrependimento’ pode causar confusão, porque, se foi usada em relação aos homens, sempre tem um elemento de remorso; alguém fez alguma coisa errada e, mais tarde, arrepende-se. Ele sente remorso e promete não fazer mais aquilo que tinha feito. Pode acontecer em relação a um pecado ou por causa de imprevidência.
Mas esse não é o caso quando se trata de Deus. Deus não peca, Deus também não é imprevidente. Deus também não reage por emoções. Ele é o inabalável, O imutável. Samuel citou um texto de Números 23:19. Bileão não podia amaldiçoar Israel, porque Deus é imutável. Ele não é homem, para que se arrependa.
O fato de que o profeta usa a palavra “arrepender” em vs 11 serve para mostrar a santa ira de Deus contra o pecado. Deus sabia que isso ia acontecer. Ele avisou o povo a respeito disso. Deus escolheu Saul, de propósito, para ser rei de Israel, com uma intenção educativa. Ele quis ensinar a Israel uma dura lição, por causa dos motivos impuros de pedir um rei (1 Sm 8, 4-5). In principio eles rejeitaram a Deus, e preferiram um rei. Então, Deus deu um rei, e este rei devia se submeter a Deus. Se não, Deus iria rejeita-lo, como aconteceu aqui. Não podemos dizer que a reação de Saul foi uma surpresa para Deus; Deus não foi surpreendido, nem decepcionado. E Ele não mudou de plano, como se não tivesse previsto o que ia acontecer. Nada disso. Deus mudou de posição, mas não de plano. Deus continuou com seu plano e chamou o rei que Ele queria. Ele rejeitou o rei desobediente. Deus reage de acordo com 2 Tm. 2:13: “se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará; se somos infieis, Ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar a si mesmo”.
De acordo com os Remonstrantes, Deus reage assim, também, na obra da Salvação, então tudo depende do homem e do livre arbítrio dele. Mas eles não contam com os textos que o Concílio colocou na refutação, especialmente Rm. 8,30.
Deus não somente definiu uma regra geral de acordo com João 3,16, mas Ele também escolheu certos homens e um número definido de pessoas para a vida eterna. E essa decisão é imutável. “Assim, Sua eleição não pode ser cancelada e depois renovada, nem alterada, revogada ou anulada; nem mesmo podem os eleitos ser rejeitados, ou o número deles ser diminuído”.